Aprendendo grego

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O grego e o chinês são as duas únicas línguas faladas continuamente desde a antiguidade até hoje; ou seja, são línguas com 3 mil anos de história e de um vocabulário sempre crescente. Curiosamente, apesar dessas línguas terem em comum essa dimensão temporal, uma delas é frequentemente classificada como língua morta enquanto a outra não.

A língua grega não morreu, ela só voltou para casa

Concretamente, e ao contrário do que muitos pensam, o grego nunca deixou de ser falado e, apesar de sua longa história, é uma língua que apresenta uma estabilidade notável. Ela se deve, em grande medida, a fatores como a formação precoce — na história da língua — de um cânone literário (como exemplo, poderíamos aduzir tanto a poesia épica de Homero e Hesíodo quanto os textos em grego ático do período clássico); a estabilidade das instituições (entre 146 a.C. - 1453 a Grécia fez parte do Império Romano e entre 1453-1827 do Império Turco-Otomano); e a religião, visto que o cristianismo ortodoxo grego sempre utilizou a versão original dos evangelhos em grego comum (κοινή), de modo que os cristãos ortodoxos têm sido continuamente expostos ao texto dos evangelhos em grego comum desde a idade média até os dias de hoje.

Se as línguas neolatinas são frutos que caíram mais ou menos próximos da árvore do latim, o grego é uma única grande árvore com vários longos galhos – uns maiores, outros menores. Apesar das constantes transformações, os falantes do grego sempre mantiveram como referência o grego ático do período clássico como modelo de excelência no uso da língua e frequentemente procuraram mimetizar e recriar o estilo dos autores desse período (e.g. Platão, Tucídides, Xenofonte). Poetas e romancistas eruditos ainda hoje transitam livremente pelas diferentes fases da língua. Exemplos desse retorno constante às referências clássicas incluem tanto a segunda sofística do período imperial quanto a Katharevousa dos séculos XVIII-XIX iniciada por Adamantios Korais. Dizendo de outro modo, diferente do que se passou no ocidente latino fragmentado, os falantes do grego nunca deixaram de usar a língua e de ter como referência a literatura clássica pagã e os evangelhos do cristianismo primitivo. Nas palavras de Gravas (2001):

Actually, this language has been transmitted from mother to child and continuously spoken in the same part of the world for 3000 years. Of course, it has evolved, but, like most living things, it changed much more in its youth than in its maturity; there is much more difference between the Greek of Homer and that of Aristoteles, than there is between the Greek of the gospels and that of today. In fact, the English language has probably changed more since Shakespeare than Greek has since the gospels.

Com isso em mente, não é surpreendente encontrar diversos filólogos, historiadores, filósofos e classicistas decidindo aprender o grego demótico (a.k.a. grego moderno). Afinal, essa é uma fase do grego que conta com muito mais recursos para o aprendizado, além de ser a única oficialmente ainda em uso. Além disso, é certamente mais fácil encontrar alguém para conversar em grego demótico do que para conversar em grego ático, comum ou medieval.

Sobre a relação entre o grego demótico e grego comum

Para aprender o grego demótico

Fazendo a transição para o grego antigo

Para quem decidiu aprender o grego moderno/demótico e adquiriu uma competência básica na língua (suficiente para manter uma conversa e ler histórias simples), é interessante fazer uma transição para o grego antigo utilizando o método natural.

O principal livro seguindo esse método é uma adaptação italiana do Athenaze, originalmente publicado pela Oxford. Essa adaptação foi desenvolvida pelo latinista Luigi Miraglia, fundador da Accademia Vivarium Novum. Miraglia acrescentou centenas de páginas de texto em grego e substituiu as traduções para o inglês por glosas em grego ou gravuras. A versão italiana do Athenaze tem dois volumes totalizando 800 páginas das quais cerca de 400 são de texto (um número muito superior ao que encontramos na edição inglesa original, sendo que o mesmo vale para o vocabulário; i.e., a edição italiana possui um vocabulário muito mais amplo).

Um detalhe importante é que o livro pode ser adquirido apenas em sites italianos, pois os termos do contrato entre a Academia Vivarium Novum e a Oxford proíbem a venda em outros países.

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