Gestão das referências bibliográficas

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O problema

A pesquisa em filosofia antiga enfrenta alguns desafios peculiares. Nós lidamos com um volume enorme de fontes primária e secundária, acumulados ao longo de 1500-2000 anos de reflexão e exegese. Não bastasse a extensão da bibliografia, a existência de diversos conjuntos de regras para fazer referência a essas fontes demanda de nós um esforço de conciliação e faz com que os trabalhos na área sejam propensos a erros e à necessidade de adaptações e correções. Mesmo quando extremamente bem-feitos, trabalhos podem demandar adaptações significativas — e.g. por ocasião da submissão de um artigo ou livro, sobretudo internacionalmente, é quase certo que teremos de modificar o padrão das referências bibliográficas e conforma-lo a um sistema diferente. Como a maior parte de nós guarda seus registros bibliográficos em forma de lista em um documento de texto qualquer, isso significa que a cada vez que uma adaptação for necessária, seremos obrigados a dedicar várias horas para executar um trabalho manual de baixo-valor.

  • MENN, S.; “Aristotle’s Definition of Soul and the Programme of the De Anima”. In: Oxford Studies in Ancient Philosophy, v. 22, 2002. pp. 83-139
  • POLANSKY, Ronald. Aristotle’s De Anima. Cambridge: Uni Press, 2007
  • NUSSBAUM, Martha Craven & RORTY, Amélie Oksenberg. Essays on Aristotle’s De anima. Oxford: Clarendon Press, 1992
  • HENRY, D. & NIELSEN, K. M. (eds.). Bridging the Gap between Aristotle’s Science and Ethics. Cambridge: Cambridge University Press, 2015
  • ARISTOTELES. De Anima. Trad.: THEILER, W. & SEIDL, H. Hamburg: Felix Meiner, 1995
  • ARISTÓTELES. De Anima. Ed.: ROSS, W. D. Oxford: Clarendon Press, 1961

Para além destes desafios específicos, há ainda aqueles comuns a todas as demais áreas, como o tempo perdido a cada vez que precisamos localizar uma referência anotada em algum pedaço de papel ou em algum arquivo isolado qualquer; ou a dificuldade de assegurar que todas as fontes citadas no corpo do texto estejam presentes na bibliografia final do trabalho.

A solução

As ferramentas concebidas para resolverem esses e outros problemas chamamos de gerenciadores bibliográficos. Há muito o que dizer sobre eles e sobre a sua utilidade, pois esses programas podem servir como uma espécie de hub para toda a nossa pesquisa. Os dados ficam estruturado e prontos para formarem referências em qualquer formato e serem pesquisados com precisão utilizando inúmeros critérios, ao mesmo tempo em que nos conectam com as nossas anotações e com os arquivos correspondentes. Para cada entrada, o programa sabe quem é o autor, editor ou tradutor; qual é o título da obra; de que tipo é a referência (livro, artigo, etc.):

ID Tipo Autor(a) Título Editor(a) Tradutor(a) Journal Volume Págs Ano Editora Lugar Citekey
78816 Journal article Menn, Stephen Aristotle’s Definition of Soul and the Programme of the De Anima Oxford Studies in Ancient Philosophy 22 83-139 2002 Menn2002
10104 Book Polansky, Ronald Aristotle’s De Anima 2007 Uni Press Cambridge Polansky2007a
55711 Book Nussbaum, Martha CravenRorty, Amélie Oksenberg Essays on Aristotle’s De anima 1992 Clarendon Press Oxford Nussbaum1992
99531 Edited book Bridging the Gap between Aristotle’s Science and Ethics Henry, DevinNielsen, Karen Margrethe 316 2015 Cambridge University Press Cambridge Henry2015
22323 Trans Book Aristoteles De Anima Theiler, W.Seidl, H. 1995 Felix Meiner Hamburg DA_Theiler
44738 Ed. Crítica Aristóteles De Anima Ross, W. D. 402a1-435b25 1961 Clarendon Press Oxford DA_Ross

Como o programa sabe onde encontrar cada dado, ele precisa apenas de instruções sobre como montar as referências:

ABNT APA
(SOBRENOME ano) (Sobrenome, ano)
SOBRENOME, Nome. Título. Editores/as (ed.). Trad.: Tradutores/as. Cidade: editora, ano. Sobrenome, Nome (Ano) Título. (Nome e sobrenome, Trans.) Cidade: editora.

O modo mais comum de representar as regras de construção das referências é utilizando um arquivo no formato CSL (Citation Style Language). Há dezenas de milhares de arquivos disponíveis adaptados às mais diversas necessidades. Recentemente, acrescentei mais um arquivo à lista com um um estilo que preparei para suprir as demandas específicas das áreas de estudos clássicos e filosofia antiga. Esse estilo contempla, dentre outras coisas, a necessidade de utilizar os nomes dos editores/as e tradutores/as nas citações em linha.

Resumo da opéra

Gerenciadores cumprem, então, ao menos dois papeis importantes:

  • O primeiro diz respeito à organização em geral. Com eles, fica muito simples encontrar a referência que precisamos quando precisamos, pois é possível filtra-las a partir de diversos critérios arbitrários, como autores(as), editores(as), tradutores(as), editora, palavras-chave, coleção, etc. Durante o processo de escrita, passa a ser possível apenas evocar um atalho para buscar em todo o banco de dados pela referência que precisamos — por oposição a simplesmente deixar um espaço vazio com os dizeres “inserir referência aqui” ou interromper o processo para dar início a uma caçada que pode levar horas.
  • O segundo diz respeito à completude dos textos que escrevemos. Os gerenciadores podem “escanear” as citações no texto para gerar a bibliografia automaticamente. Não elimina a tarefa de conferir, mas reduz bastante as chances de que alguma referência seja esquecida.

Indicações

Eis alguns gerenciadores de bibliografia que você pode experimentar:

Outras referências úteis

  • ABNT-Phi é um estilo CSL (Citation Style Language) adaptado para facilitar o trabalho com autores/as e fontes antigas. Funciona com o Pandoc e com o Zotero.
  • ⚡️ Anystyle.io Para gerar um arquivo bibtex a partir da sua bibliografia ou convertê-la em outro sistema (APA, ABNT, etc).
  • 🔍 Ottobib Encontre referências a partir do ISBN.
  • PDF Grep Ferramenta para linha de comando que permite fazer buscas em (qualquer número de) PDFs usando RegEx.
  • Zotero-love-letter